Surgiu um documento de dez páginas no cenário internacional, supostamente em defesa da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), condenada a dez anos de prisão pelo ataque cibernético ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2023. O chamado “Dossiê Técnico de Defesa” circulou na imprensa com detalhes sobre o caso, alegando que Zambelli foi vítima de perseguição política e apontando possíveis violações no processo conduzido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O texto faz até ligações com o caso do ex-diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, que buscou evitar a extradição alegando questões humanitárias e políticas.
Mas, agora, a defesa oficial da deputada resolveu colocar um freio nas especulações. O advogado Fábio Pagnozzi deixou claro que nem a equipe defensora no Brasil nem na Itália participou da produção do dossiê. Ele ainda disse duvidar que a própria Carla Zambelli tenha escrito qualquer coisa: segundo Pagnozzi, Zambelli está incomunicável desde que virou foragida, o que dificulta ainda mais essa possibilidade.
Condenada por supostamente ter planejado e ordenado o ataque hacker – operação que envolveu desde a invasão de sistemas até a criação de um falso mandado de prisão para o ministro Alexandre de Moraes –, Zambelli conseguiu escapar do Brasil em maio de 2025. Hoje está na Itália, país onde também tem cidadania. Ela usa esse recurso para tentar evitar ser extraditada, estratégia parecida com a do próprio Pizzolato anos atrás, que também tentou permanecer na Itália para fugir de suas penas.
No dossiê não reconhecido pela defesa da deputada, há ênfase direta em pedidos por tratamento humanitário caso Zambelli seja detida. Esse tipo de solicitação foi comum em processos internacionais de extradição nos anos recentes, especialmente quando há alegações de motivação política por trás das condenações.
Enquanto a defesa se afasta do documento, o Ministério Público e investigadores apontam que Zambelli agiu de forma coordenada com Walter Delgatti, conhecido por envolvimento em outros casos polêmicos relacionados a invasão de dados. Delgatti confirmou ter cumprido ordens diretas de Zambelli durante a invasão dos sistemas do CNJ. Diante do cenário, a Justiça brasileira já levou o caso a instâncias internacionais, pedindo apoio da Interpol, que emitiu comunicado de captura para facilitar a prisão da parlamentar no exterior.
A repercussão desse episódio mostra como o embate entre Judiciário, políticos e estratégias internacionais de defesa tem ganhado novas proporções, envolvendo tratados, duplas cidadanias e notas diplomáticas. Por enquanto, a disputa sobre a verdadeira autoria do dossiê é mais um capítulo numa novela que está longe do fim.