Em março de 2017, o lutador cearense Pepey, cujo nome civil é Luis Henrique Barbosa Ferreira, foi obrigado a desistir de uma luta marcada para acontecer em seu estado natal — Fortaleza — após médicos constatarem uma lesão no nariz durante os exames pré-luta. O anúncio, publicado pelo Sportv, braço esportivo do Grupo Globo, causou surpresa entre os fãs locais. Para um atleta que cresceu entre as ruas de Ceará, lutar em casa não era só uma oportunidade: era um sonho. E foi arrancado antes mesmo do primeiro round.
Um golpe inesperado antes do combate
A lesão nasal foi diagnosticada por profissionais da Comissão Atlética do Estado do Ceará, órgão responsável por autorizar ou barrar lutadores antes de eventos oficiais. O diagnóstico foi claro: o nariz estava comprometido, e qualquer impacto durante uma luta poderia agravar o quadro — até mesmo causar hemorragia interna ou fratura exposta. Em MMA, essas regras são rígidas. Não há espaço para riscos. Mesmo que Pepey estivesse disposto a lutar com um curativo ou um protetor, a comissão não permitiu. Não havia margem para negociação.Ele estava preparado. Treinava há semanas. O público local já havia comprado ingressos. Os organizadores, a equipe de transmissão, até os vendedores ambulantes ao redor do ginásio — todos contavam com esse card. E de repente, tudo desmoronou. O que parecia ser um momento de glória virou um susto médico. A notícia foi publicada como um curtinhas — um breve alerta, como se o próprio jornalismo soubesse que o impacto era grande, mas as informações, escassas.
Um lutador de casa, sem casa para lutar
Pepey era mais que um nome no card. Era um símbolo. Filho de Ceará, ele havia subido pelas categorias regionais até chegar ao UFC, a maior organização de MMA do mundo. Lutou em Las Vegas, enfrentou rivais de diversos países, representou o Brasil em telas globais. Mas o coração sempre ficou em Fortaleza. Por isso, o fato de ele ser obrigado a desistir em casa pesou mais do que a lesão em si."É como se você estivesse no seu aniversário e o bolo desmoronasse na sua frente", disse um torcedor ao Sportv na época. "Ele não é só um lutador. É um de nós. E agora, sem luta, sem festa."
A ausência dele também afetou o fluxo de vendas. Eventos regionais como esse dependem de fãs locais — e Pepey era o principal atrativo. O ginásio onde o evento aconteceria, o Centro de Eventos do Ceará, já tinha 70% dos ingressos vendidos. O organizador, Combate FC, teve que correr para encontrar um substituto. Mas em poucos dias? Impossível. A luta foi cancelada. O card foi reajustado. E o público, frustrado.
Lesões em MMA: mais comuns do que parece
Lesões no nariz não são raras no MMA. Na verdade, são uma das mais frequentes. Um estudo da Journal of Athletic Training apontou que 32% dos lutadores profissionais já sofreram fraturas ou desvios nasais durante a carreira. Mas o que torna esse caso único é o momento: um lutador de casa, em um evento local, com tudo pronto, e então — stop. Sem aviso. Sem chance de recuperação rápida.Na época, não houve declaração pública de Pepey. Nenhuma foto do exame. Nenhum vídeo de reabilitação. Apenas o comunicado oficial. Isso gerou especulações: será que a lesão era mais séria do que aparentava? Será que ele já estava com problemas antigos e escondia? Ninguém soube dizer. A falta de transparência foi um ponto crítico. Em um esporte onde o atleta é visto como guerreiro, a ausência de explicação gerou desconfiança.
O que mudou desde então?
Depois de 2017, Pepey não retornou ao UFC. Continuou lutando em eventos regionais, mas nunca mais teve o mesmo destaque. Em 2020, ele anunciou uma pausa na carreira para cuidar da família e abrir uma academia em Fortaleza. Hoje, treina jovens atletas. Dizem que ele ainda olha para os cartazes de luta da cidade e sorri — com um misto de saudade e aceitação.Enquanto isso, o Fortaleza continua sendo um celeiro de talentos do MMA. Mas o caso de Pepey deixou uma lição: mesmo em casa, o corpo não obedece aos desejos. E às vezes, o maior inimigo não é o adversário — é o próprio organismo, que decide, num instante, que é hora de parar.
As consequências de um cancelamento
Quando um lutador é retirado de um card, o impacto vai além do esporte. O evento perde credibilidade. Os patrocinadores questionam o retorno. A emissora — no caso, o Sportv — precisa ajustar a programação. E os torcedores? Eles sentem traição. Não por culpa de ninguém, mas por expectativa frustrada.Em 2018, a Comissão Atlética do Ceará passou a exigir exames de imagem (como radiografias) obrigatórios para todos os lutadores com histórico de trauma facial. Uma mudança direta, embora tardia, inspirada por casos como o de Pepey. Não foi uma regra nova, mas uma reforçada. E isso, talvez, seja o legado mais importante desse episódio.
Frequently Asked Questions
Por que uma lesão no nariz impede um lutador de competir?
Lesões nasais em MMA são proibidas porque o nariz é uma estrutura frágil e altamente vascularizada. Um impacto durante a luta pode causar hemorragia, fratura exposta ou até obstrução das vias aéreas. As comissões atléticas, como a do Ceará, seguem protocolos internacionais que priorizam a segurança do atleta — mesmo que ele queira lutar.
Quem era Pepey antes desse incidente?
Luis Henrique Barbosa Ferreira, conhecido como Pepey, foi um lutador profissional da categoria peso-pena que já competiu no UFC, o principal campeonato de MMA do mundo. Natural de Ceará, ele era visto como um dos principais representantes da região no esporte, com vitórias em eventos nacionais antes de sua estreia internacional.
O evento em Fortaleza chegou a acontecer sem ele?
Sim, mas sem a luta principal. O evento foi reajustado com outros combates, mas perdeu grande parte do público e da atenção da mídia. A ausência de Pepey reduziu significativamente as vendas de ingressos e o alcance da transmissão ao vivo pelo Sportv.
O que mudou na regulamentação após esse caso?
A Comissão Atlética do Ceará passou a exigir exames de imagem, como radiografias, para lutadores com histórico de trauma facial. Antes, bastava exame físico. A mudança foi uma resposta direta a casos como o de Pepey, visando evitar cancelamentos tardios e proteger a integridade dos atletas.
Por que a mídia chamou isso de "curtinhas"?
"Curtinhas" é um termo jornalístico brasileiro para notícias breves, de impacto rápido e pouca profundidade. Nesse caso, o Sportv divulgou o fato como um alerta inicial — ainda sem detalhes médicos ou declarações oficiais. Foi um aviso, não uma reportagem completa.
Pepey voltou a lutar depois disso?
Sim, mas apenas em eventos regionais e com menos frequência. Ele nunca mais retornou ao UFC. Em 2020, anunciou uma pausa na carreira para abrir uma academia em Fortaleza, onde hoje treina jovens lutadores. Sua luta agora é outra: formar novos talentos.