Caio Bonfim conquista ouro inédito na marcha 20 km no Mundial de Atletismo 2025

Ouro inédito para o Brasil

Pela primeira vez, o hino brasileiro soou após a marcha atlética masculina de 20 km em um Mundial. Em Tóquio, Caio Bonfim cruzou a linha em 1h18min35s e levou o ouro, um feito que escapa ao país desde a criação do evento. O brasileiro, de 34 anos, sustentou um ritmo firme do começo ao fim e confirmou a fase mais consistente da carreira.

A disputa foi apertada até os metros finais. O chinês Wang Zhaozhao garantiu a prata com 1h18min43s, apenas oito segundos atrás do brasileiro, e o espanhol Paul McGrath completou o pódio com 1h18min45s. Em nível de campeonato mundial, diferenças assim são detalhes: uma hidratação feita na hora certa, um ajuste de cadência em subida, um olhar atento dos juízes. Bonfim acertou em todas as microdecisões.

  • 1º — Caio Bonfim (Brasil): 1h18min35s
  • 2º — Wang Zhaozhao (China): 1h18min43s
  • 3º — Paul McGrath (Espanha): 1h18min45s

O resultado consolida uma escalada rara em provas de resistência. Bonfim já tinha duas medalhas de bronze em Mundiais (2017 e 2023) e uma prata olímpica em 2024. Agora, coloca o ouro nessa sequência e amplia o alcance histórico da marcha atlética brasileira. Além do valor simbólico, a marca é mais rápida do que os 1h19min42s do quarto lugar na Rio-2016, quando ele já havia chamado a atenção do planeta.

O caminho até a vitória não foi apenas físico. Marcha atlética é uma prova de precisão técnica, com regras rígidas: um pé precisa manter contato com o chão o tempo todo e a perna de apoio deve ficar estendida. Erro custa caro, com avisos e possíveis punições. Em meio a essa vigilância, manter a velocidade acima de 1h19 em 20 km exige foco quase cirúrgico. Bonfim dominou esse jogo mental enquanto administrava a pressão de uma prova de campeonato, em que tática pesa tanto quanto preparo.

Da base ao topo do mundo

Da base ao topo do mundo

Nascido em 1991, natural de Brasília e filho da ex-marchadora internacional Gianetti Bonfim, Caio cresceu dentro da modalidade. A influência da família moldou a técnica, a paciência e a leitura de prova — virtudes que se traduziram em longevidade competitiva. Ele está em Jogos Olímpicos desde 2012 e tem experiência suficiente para saber quando atacar e quando esperar.

O ouro em Tóquio também diz muito sobre a evolução da marcha no Brasil. A modalidade vem ampliando centros de treinamento, intercâmbios e presença em competições internacionais. O pódio de hoje não é um raio em céu azul: é a colheita de anos de trabalho contínuo, com planejamento de calendário, controle de cargas e construção de base aeróbia. Quando o corpo responde e a cabeça acompanha, a medalha vira consequência.

Quer ver como essa trajetória foi se construindo? A linha do tempo ajuda a entender o salto de qualidade:

  • 2016 — 4º lugar na Rio-2016 (1h19min42s), performance que impulsionou a carreira.
  • 2017 — Bronze no Mundial, confirmação no cenário global.
  • 2023 — Bronze no Mundial, início do auge técnico e tático.
  • 2024 — Prata olímpica, primeiro grande pódio em Jogos.
  • 2025 — Ouro no Mundial de 20 km, marca da consolidação no topo.

Há outro componente nessa história: consistência. Em provas de endurance, não adianta ter um pico isolado. O que manteve Bonfim na elite foi a repetição de resultados grandes, ano após ano, e a capacidade de competir com diferentes gerações de adversários, de chineses a espanhóis, passando por europeus do leste e japoneses, todos com tradições fortes na marcha.

Para o Brasil, a medalha vale como referência técnica. Em tempos de renovação no atletismo nacional, ter um campeão mundial em prova olímpica de rua ajuda a atrair jovens, melhora a percepção de patrocinadores e pressiona por mais estrutura. É assim que as modalidades crescem: com ídolos, resultados e calendário cheio. A vitória de Bonfim alimenta esse ciclo.

O próximo capítulo passa por manter saúde e volume de treino, escolher bem o calendário e proteger o corpo de lesões, o verdadeiro adversário invisível do alto rendimento. Com a confiança de campeão do mundo e uma leitura de prova cada vez mais afiada, Bonfim entra nos próximos desafios com algo que ninguém tira: a sensação de que, no dia certo, ele sabe ganhar a corrida que mais importa.

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