Palmeiras perde por 3 a 0 para a LDU em Quito e vira pesadelo na semifinal da Libertadores

Em uma noite de altitude, silêncio e surpresa, o Palmeiras viu sua invencibilidade contra equipes estrangeiras na Libertadores 2025 se desfazer como um castelo de cartas. Derrotado por 3 a 0 pela Liga Deportiva Universitaria do Equador (LDU-EQU) no Estádio Rodrigo Paz Delgado, em Quito, na quinta-feira, 23 de outubro de 2025, o time de Abel Ferreira não apenas perdeu o jogo — perdeu o controle, a confiança e, talvez, o sonho de um bicampeonato continental. A partida, disputada a quase 3.000 metros de altitude, foi um golpe de efeito em pleno coração da semifinal. Agora, o Verdão precisa fazer história no Allianz Parque na próxima quinta-feira, 30 de outubro, para reverter o que parece impossível.

Um recorde quebrado, uma identidade abalada

Antes do apito inicial, o Palmeiras carregava uma marca quase mítica: 25 jogos sem derrotas contra times estrangeiros na Libertadores. Um recorde que remontava a 2017, quando venceu o Delfín nas oitavas e superou o River Plate nas quartas em 2020 — ano em que conquistou o título. Aquela sequência era mais que estatística: era identidade. Era a prova de que, sob Abel Ferreira, o Palmeiras se tornara a máquina mais confiável da América do Sul em jogos fora de casa. Mas em Quito, tudo desmoronou. A LDU, comandada pelo técnico Tiago Nunes, jogou como se tivesse um mapa secreto da fraqueza do adversário. E não foi só altitude. Foi organização, pressão e precisão.

A máquina de eliminar brasileiros de Tiago Nunes

O treinador da LDU, ex-assistente de Tite na seleção brasileira, transformou sua equipe numa espécie de caçador de gigantes. Nas oitavas, eliminou o Botafogo. Nas quartas, superou o São Paulo — e não por acaso: venceu os dois jogos. Nesta semifinal, repetiu o feito. O gol de abertura veio aos 12 minutos, com Lissandro Alzugaray, artilheiro da LDU na competição, retornando de lesão e marcando com frieza. O segundo, aos 38, foi um contra-ataque perfeito: passe de linha de fundo, cruzamento rasteiro e finalização de Jhon Córdoba. O terceiro, aos 78, foi um gol de pênalti marcado por Jhojan Valencia, após uma falta discutível na área. O Palmeiras, que havia sofrido apenas seis gols em 10 jogos antes disso, pareceu paralisado. Não havia reação. Não havia voz. Nem mesmo o retorno de Dudu e Rafael Santos Borré no segundo tempo alterou o fluxo.

Altitude, lesão e um goleiro que não estava na lista

A LDU perdeu seu goleiro titular, Gonzalo Vale, em treino na semana anterior — lesão no joelho, fora até 2026. Em seu lugar, entrou Alexander Domínguez, 38 anos, com 18 anos de carreira e 231 jogos pela seleção equatoriana. O veterano não apenas segurou o placar: foi decisivo em dois lances cruciais. Um salvamento em chute de Weverton no primeiro tempo, e outro no segundo, em bola cruzada de Guilherme Arana. Enquanto isso, o Palmeiras teve o goleiro Weverton em uma noite rara de erros. Um erro de passagem no início do jogo, que resultou no primeiro gol, e uma falta que custou o pênalti. Não foi só o técnico que falhou. Foi o time inteiro.

Um histórico pesado e um futuro incerto

Um histórico pesado e um futuro incerto

O Palmeiras é o quinto clube com mais semifinais na história da Libertadores — 12 no total. Mas nunca, em sua trajetória, havia caído em uma semifinal após vencer 9 das 10 partidas anteriores na competição. Nunca havia perdido por 3 a 0 fora de casa em mata-mata. E nunca, nos últimos seis anos, havia chegado tão perto e tão longe ao mesmo tempo. O time que lidera o Brasileirão 2025, que venceu o Corinthians no clássico e eliminou o River Plate em Buenos Aires, agora enfrenta uma crise de confiança. A derrota para o Flamengo no Maracanã, no domingo anterior, já havia abalado o moral. Mas o que aconteceu em Quito foi um abalo estrutural.

Quem avança? O que está em jogo

O vencedor deste confronto enfrentará o vencedor do outro semifinal: Flamengo x Racing Club. A final, marcada para 29 de novembro de 2025, será no Estádio Nacional, em Lima, Peru. Para o Palmeiras, não se trata só de título. É sobre prestígio. É sobre manter a hegemonia sul-americana que construiu desde 2018. Se perder, será a primeira vez desde 2015 que não chega à final nos últimos oito anos. Para a LDU, é a chance de voltar à final pela primeira vez desde 2009 — e talvez conquistar o segundo título da história do clube.

O que acontece no Allianz Parque?

O que acontece no Allianz Parque?

Agora, o Palmeiras precisa vencer por dois gols de diferença — ou vencer por 1 a 0 e levar para os pênaltis. Mas o que fazer quando o time não consegue criar chances claras? Abel Ferreira terá que reorganizar a defesa, talvez recuar Bruno Guimarães e lançar Gabriel Veron como ponta. Mas o maior desafio não é tático: é psicológico. Como convencer jogadores que foram humilhados em altitude, que perderam a confiança, que viram seu recorde se desfazer diante de um adversário que ninguém esperava tão forte?

Frequently Asked Questions

Como a altitude de Quito influenciou o jogo?

A altitude de Quito, cerca de 2.850 metros acima do nível do mar, afeta diretamente a oxigenação dos jogadores. O Palmeiras, acostumado a jogar no nível do mar, sofreu com fadiga precoce nos últimos 20 minutos do primeiro tempo. A LDU, por outro lado, tem jogadores que vivem e treinam nessa altitude, o que lhes dá uma vantagem fisiológica. Isso explica por que o time equatoriano foi mais eficiente no segundo tempo, mesmo com menos posse de bola.

Por que a LDU consegue eliminar times brasileiros com tanta frequência?

Tiago Nunes montou um time extremamente organizado, com alta pressão e transições rápidas. Ele estuda detalhadamente os adversários brasileiros — especialmente os times que jogam com muita posse, como o Palmeiras. A LDU não tenta dominar o jogo: ela espera, corta passes e ataca em espaços. Nos últimos dois anos, já eliminou o Corinthians, o São Paulo e o Botafogo. É um modelo que surpreendeu a América do Sul.

O Palmeiras ainda tem chances de avançar?

Tecnicamente, sim. Mas historicamente, é raro. Nas últimas 20 vezes que uma equipe perdeu por 3 a 0 na ida da semifinal da Libertadores, apenas duas conseguiram reverter — e ambas foram contra times da Argentina. O Palmeiras nunca fez isso em casa em uma semifinal. Para avançar, precisa marcar pelo menos dois gols e manter o gol sofrido em zero. É quase impossível sem uma atuação de gênio de algum jogador.

Quem é o artilheiro da LDU na Libertadores 2025?

Lissandro Alzugaray, de 24 anos, marcou 6 gols na competição até a semifinal, sendo o principal goleador da equipe. Ele retornou de uma lesão no tendão do joelho após 45 dias de recuperação e foi titular contra o Palmeiras — e não decepcionou. Seu gol de abertura foi o 100º da LDU na história da Libertadores. Ele também é o jogador mais jovem da equipe a marcar em semifinal.

Qual o recorde histórico do Palmeiras na Libertadores?

O Palmeiras é o quinto clube com mais semifinais na história da competição, com 12 aparições. Mas seu recorde mais impressionante é a sequência de 25 jogos sem derrotas contra adversários estrangeiros — que foi interrompida em Quito. Ele também é o único time da América do Sul a chegar à semifinal em cinco das últimas seis edições (2020, 2021, 2022, 2024 e 2025), um feito jamais alcançado por qualquer outro clube no século XXI.

O que a derrota significa para Abel Ferreira?

A derrota coloca em xeque o modelo de jogo do técnico. Ele vinha sendo elogiado por sua consistência, mas agora enfrenta críticas por não adaptar a equipe à altitude e por manter jogadores em má fase. Se o Palmeiras for eliminado, pode ser o fim de sua era no clube — mesmo com dois títulos continentais. A pressão por resultados no Brasil é enorme, e o público não perdoa falhas em competições continentais.